Liderança no Desporto
A importância da avaliação da capacidade de liderança de um treinador ou dirigente, reside no facto de se poder compreender melhor as características que devemos potenciar ou otimizar para que se possa alcançar melhor rendimento e satisfação entre os atletas (Dosil, 2004). Com base no modelo multidimensional de Chelladurai, foi desenvolvido um instrumento de avaliação que goza de uma grande aceitação por parte dos investigadores, o que motivou a sua tradução, adaptação e utilização em diversos países (Dosil, 2004).
A Leadership Scale for Sport (LSS), foi desenvolvida por Chelladurai e Saleh (1978). Este instrumento é composto por 3 versões:
- Autoperceção - que nos revela a perceção do treinador do seu próprio comportamento;
- Perceção - que se refere à perceção que os atletas têm do comportamento do seu treinador;
- Preferências - que diz respeito às preferências dos atletas pelo comportamento do treinador.
Cada uma das versões desta escala é constituída por 40 itens, aos quais se responde numa escala tipo Likert que varia entre 1 (nunca) e 5 (sempre). Posteriormente as respostas são agrupadas em cinco dimensões que representam o comportamento tipo do treinador/líder, que podemos sintetizar da seguinte forma:
- Treino Instrução - voltado para a melhoria dos aspetos técnicos e táticos da modalidade;
- Suporte Social - interesse em relação ao bem-estar dos atletas;
- Democrático - favorecimento da participação dos atletas nas tomadas de decisão;
- Autocrático - favorecimento da autoridade pessoal do treinador e independência na tomada de decisão;
- Reforço - relacionado com o reforço positivo dado ao atleta;
De acordo com Cruz e Gomes (1996) e Dosil (2004), para além da Leadership Scale for Sport (LSS) de Chelladurai e Saleh (1978), existem outros instrumentos de avaliação disponíveis e que são igualmente bem acolhidos no âmbito da investigação e da aplicação prática (consultar a bibliografia referente abaixo).
- Leader Behavior Description Questionnaire (LBDQ), desenvolvido por Danielson, R.R., Zelhart, P.F., & Drake, C.J. (1975). Multidimensional scaling and factor analysis of coaching behavior as perceived by high school hockey players. Research Quarterly, 46, 323-334;
- Coaching Behavior Assessment System (CBAS), desenvolvido por Smith, R. E., Smoll, F. L. y Hunt, E. B. (1977). A system for the behavioral assessment of athletic coaches. Research Quarterly, 48. pp. 401-407;
- Medford Player-Coach Interaction Inventory (MPCII), desenvolvido por Medford, P. e Thorpe, J. (1986). An inventory for measuring player-coach interaction. Perceptual and Motor Skills, 63, pp.267-270;
- Scale of Athlete Satisfaction (SAS), desenvolvido por Chelladurai, P., Imamura, H., Yamaguchi, Y., Oinuma, Y., and Miyauchi, T. (1988). Sport leadership in a cross-national setting: The case of Japanese and Canadian university athletes. Journal of Sport and Exercise Psychology, 10, 374-389;
- Sport Leadership Behavior Inventory (SLBI), desenvolvido por Glenn, S. D., & Horn, T. S. (1993). Psychological and personal predictors of leadership behavior in female soccer athletes. Journal of Applied Psychology, 5, 17-34;
- Leadership Quality Scale (LQS), desenvolvido por Zhang, J. J., & Pease, D. G. (1995). Leadership qualities of athletic administrators: Development of a scale. Research Quarterly for Exercise and Sport: Abstracts Supplement, 66, 1, A50;
Liderança eficaz recomendações práticas para o desenvolvimento
Em primeiro lugar, e seguindo a sugestão de Dosil (2004), deve-se diferenciar a existência de diferentes tipo de liderança em função dos protagonistas envolvidos no contexto desportivo (dirigentes, treinadores, atletas, médicos, etc.), uma vez que cada um deles desempenha um papel distinto no seio do coletivo. De acordo com o mesmo autor, as lideranças mais usuais e aquelas que maior interesse tem para os psicólogos do desporto são:
- Dirigentes - no essencial, devem ter em linha de conta as características próprias de cada modalidade e utilizar técnicas semelhantes às da psicologia organizacional;
- Treinadores - devem "aprender e treinar" as suas competências neste domínio e caminhar no sentido de serem líderes eficazes;
- Jogadores - quer de uma formal (através da sua escolha entre os membros), quer informal (emergir da interação entre os membros), não se pode negar a existência de líderes/jogadores dentro dos grupos (Mendo e Ortiz, 2003). Compreender a sua influência nos comportamentos do coletivo e criar alianças de intervenção com ele pode fazer a diferença.
Dois fatores são fundamentais, para ter êxito como treinador/líder é necessário ser bom comunicador e ter uma boa coesão de grupo (Dosil, 2004). Martens (1987) também reforça este ponto, treinar as competências de comunicação e melhorar as relações interpessoais são as pedras basilares para o sucesso da liderança no desporto. Para além desses fatores, Murray (1991), Cruz e Gomes (1996) e Noce (2002), sugerem algumas linhas de orientação prática que se baseiam em 3 estratégias principais:
- Nova Conceção de Sucesso - dado que um dos poucos fatores que os atletas podem controlar é o seu esforço e empenho, podemos fazer equivaler o conceito de sucesso à ideia de "dar o máximo de esforço";
- Abordagem Positiva face ao Treino - a utilização do reforço positivo pelo esforço, pelo desempenho e pelo encorajamento após o erro motiva melhor o sujeito face às suas dificuldades, cria um clima muito mais agradável e diminui a ansiedade e o stress;
- Perceção mais Realista dos Comportamentos - só com uma perceção realista e correta das suas condutas é que o treinador pode melhorar e modificar os seus padrões de comportamento, no sentido de ir ao encontro das preferências dos seus atletas;